Exposição “GENOCÍDIO” e controvérsia sobre acusações de crimes de ódio em Madri

Exposição “GENOCÍDIO” e controvérsia sobre acusações de crimes de ódio em Madri

Uma exposição apresenta três obras críticas a Israel que foram denunciadas como crimes de ódio pela ACOM (Associação de Mulheres Artistas das Américas).
A exposição “GENOCÍDIO”, que visa oferecer uma resposta artística às tentativas de silenciar a solidariedade com a Palestina, apresenta obras de 40 artistas em Madri. Três das peças foram acusadas no ano passado de antissemitismo e crimes de ódio por um grupo de pressão sionista e pelo Movimento Contra a Intolerância.

A exposição coletiva “GENOCÍDIO” inaugura em Madri no sábado, 13 de dezembro, apresentando obras de 40 artistas que denunciam o massacre cometido em Gaza pelo Estado de Israel. A exposição, que pode ser visitada na Fundação Anselmo Lorenzo até 13 de janeiro, visa oferecer uma resposta artística às tentativas de silenciar a solidariedade com a Palestina. Três dos artistas participantes da exposição vivenciaram pessoalmente uma dessas tentativas.

A exposição coletiva “GENOCÍDIO” abre em Madri no sábado, 13 de dezembro, apresentando obras de 40 artistas que denunciam o massacre cometido em Gaza pelo Estado de Israel. A exposição, que pode ser visitada na Fundação Anselmo Lorenzo até 13 de janeiro, visa oferecer uma resposta artística às tentativas de silenciar a solidariedade com a Palestina. Três dos artistas participantes da exposição vivenciaram pessoalmente uma dessas tentativas.

A exposição apresenta três obras de 40 artistas que foram alvo de críticas a Israel. Em novembro passado, a organização política Ação e Comunicação sobre o Oriente Médio (ACOM) e o Movimento Contra a Intolerância apresentaram uma queixa contra os artistas Sebas Cabero, Nuria Güell e Byron Maher, designer de El Salto, por um suposto crime de ódio. A queixa teve origem em três obras que foram brevemente exibidas na fachada do Centro Social Ocupado La Rosa, em Madri. As peças faziam parte de uma exposição coletiva de arte contemporânea intitulada "Rabia mierda" (Raiva Merda), composta por obras que transmitiam "mensagens provocativas e desafiadoras, com o intuito de questionar o status quo e promover a mudança social", segundo o catálogo da exposição.

 



Em 7 de novembro, durante a montagem da exposição, a obra de Güell foi fotografada e publicada por um usuário da rede social X, sem qualquer contexto ou explicação. A publicação recebeu uma reação imediata da ACOM, que a classificou como "antissemita".

Em 8 de novembro, poucas horas antes da inauguração, Cabero foi até La Rosa e exibiu as imagens para que pudessem ser fotografadas e incluídas no catálogo digital da exposição, que estava disponível durante todo o período da mostra e podia ser baixado por meio de um código QR. Uma equipe de reportagem da Telemadrid filmou as obras e transmitiu uma matéria alegando que ocupantes ilegais estavam exibindo uma fotografia de Goebbels, uma bala com o nome de Netanyahu e uma corda feita com a bandeira de Israel em La Rosa. A reportagem afirmava que a exposição estava causando desconforto e preocupação na comunidade judaica de Madri, e Esteban Ibarra, presidente do Movimento Contra a Intolerância, anunciou que o caso seria denunciado como crime de ódio.

Naquela mesma manhã, Cabero foi fotografado por um policial da Brigada Provincial de Informação da Polícia Nacional enquanto exibia as obras na fachada do prédio. Diante da repercussão negativa, todos os artistas participantes decidiram remover as obras para evitar danos ao espaço.

Para Raúl Maíllo, advogado de um dos artistas acusados, este processo terminará com o arquivamento do caso, pois “claramente” não se trata de um crime de ódio, já que “não há nenhuma ação contra qualquer grupo específico”.

A ameaça de ação judicial anunciada por Ibarra foi confirmada pouco depois e o caso foi aceito para processamento. No boletim de ocorrência, as três obras constam como sendo investigadas por um suposto crime de ódio. Em junho de 2025, a Polícia Nacional foi à casa de Cabero e o intimou a comparecer naquela data como suspeito perante o Juizado de Instrução nº 52 de Madri. O advogado do artista solicitou o arquivamento do caso, o que ainda não ocorreu. Segundo Raúl Maíllo, advogado de outro dos artistas acusados, tudo indica que este processo terminará com o arquivamento do caso, pois “claramente” não se trata de um crime de ódio, já que “não há nenhuma ação contra qualquer grupo específico”. O que as obras mostram, segundo o advogado, é uma crítica a uma ação do Estado de Israel, mas “isso não se enquadra em nenhum dos critérios para um crime de ódio”.

Em uma declaração conjunta, os artistas esclarecem que nenhuma das três obras visa “promover, encorajar ou incitar publicamente o ódio, a hostilidade, a discriminação ou a violência contra qualquer grupo ou pessoa com base em sua origem, religião, etnia ou ideologia”. Em vez disso, afirmam, são críticas artísticas e visuais a eventos sociais e políticos atuais, em cuja criação empregaram “técnicas visualmente impactantes, concebidas para capturar a atenção do público, como a ironia e a metáfora visual”.


A obra de Cabero, intitulada "A Solução?", busca levantar questões sobre a legitimidade da violência na resolução de conflitos. O trabalho de Güell, "Contrapropaganda", dissemina a imagem e as táticas de propaganda política de Paul Joseph Goebbels, com as quais ele monopolizou o aparato midiático estatal do Terceiro Reich e controlou a vida cultural e intelectual da Alemanha. O objetivo do artista com esta obra é "tornar essas estratégias visíveis como um primeiro passo para neutralizar sua eficácia em tempos de pós-verdade, destacar paralelos históricos e possibilitar uma reflexão crítica sobre a manipulação da informação realizada de acordo com os interesses de diferentes poderes e seus grupos de pressão atualmente". Já a criação de Maher, "Estados de Israel", é uma obra que faz parte de um projeto mais amplo que questiona a repressão e a violência que os Estados exercem sobre os indivíduos por meio da bandeira, seu símbolo mais significativo. A obra assume a forma de um jogo metafórico no qual a "forca", feita com o símbolo da bandeira, representa "a asfixia, o estrangulamento e a repressão exercidos pelos Estados por meio de sua necropolítica".

 

 

As três obras estarão em exibição em GENOCÍDIO, cujo catálogo afirma que a exposição visa “desafiar, tornar visível e resistir ao que governos, instituições e a mídia tentam deslegitimar”. O texto da exposição esclarece que “criticar as políticas do Estado de Israel não é antissemitismo; isso é denunciado por inúmeros judeus, ativistas e intelectuais dentro e fora de Israel”, e lamenta o uso de leis e regulamentos para “censurar o ativismo, a arte e os protestos pró-Palestina”.

Maíllo acredita que o status de uma obra como arte deve ampliar o escopo da liberdade de expressão. “As obras de arte não podem ser sujeitas à censura prévia ou às supostas sensibilidades dos destinatários que pretendem censurá-las. Não pode depender de a ACOM ou o Movimento Contra a Intolerância as considerarem ofensivas; devem ser examinadas dentro dos parâmetros de um caráter objetivo da intenção ofensiva e do crime de ódio, que é um fator agravante adicional contra um grupo”, explica o advogado, que acrescenta que as três obras em questão apresentam “uma crítica às ações genocidas de um Estado, que as normas e organizações internacionais reconhecem como tal”.

Na sua opinião, o ocorrido faz parte de uma estratégia “coordenada e organizada” da ACOM, que consiste em apresentar queixas contra qualquer pessoa ou entidade que questione as ações do Estado de Israel e que tente, de uma forma ou de outra, opor-se ao genocídio. “Quem expressou uma posição jornalística, política ou artística enfrentou denúncias que, em muitos casos, não levam a lugar nenhum; em alguns casos, processos são iniciados, independentemente de resultarem em nada. Mas você já está enfrentando processos judiciais, sofrendo a ansiedade do que pode acontecer quando tudo o que fez foi exercer sua liberdade de expressão para se opor a um genocídio”, explica Maíllo.

As consequências dessa abordagem do grupo de pressão são previsíveis. Por um lado, a autocensura entre artistas, jornalistas e analistas que abordam a situação em Israel e na Palestina. E, por outro, segundo o advogado, o desenvolvimento de “uma sensibilidade jurídica que confunde um crime de ódio contra o judaísmo, ou mesmo contra o Estado de Israel, com a crítica política ou artística legítima e a defesa de padrões internacionais defendidos pelas Nações Unidas e suas agências”.

O que é a ACOM?

A ACOM é a principal ferramenta de guerra cultural do sionismo na Espanha, empregando agitação e propaganda. As informações públicas sobre essa associação são escassas, embora o empresário David Hatchwell seja citado como cofundador e Ángel Mas, CEO da seguradora Amtrust, atue como presidente e escreva artigos para publicações como Libertad Digital e Voz Pópuli.

Fonte