Entrevista com Kamal Sharaf

Entrevista com Kamal Sharaf

 

Entrevista com Kamal Sharaf – O artista cujas linhas são a voz do Iémen

LATAMARTE: Sr. Sharaf, se tivesse que se apresentar em uma frase, o que diria?
Kamal Sharaf: Sou um cidadão iemenita que decidiu registrar a voz de seu povo com tinta e papel, mesmo quando o mundo fechou os ouvidos.

LATAMARTE: Qual foi o tema da primeira charge que você desenhou?
Kamal Sharaf: Foi a imagem do meu professor segurando uma bomba em vez de giz. Eu era criança na época, mas a guerra sempre estava presente na sala de aula.

LATAMARTE: O Iémen está em crise e guerra há anos. Como isso afetou a sua arte?
Kamal Sharaf: Quando você ouve explosões todos os dias, o seu lápis se torna uma arma pacífica. Minhas linhas são lágrimas e gritos que talvez nenhuma mídia transmita.

LATAMARTE: Em seu trabalho, tragédia e humor costumam coexistir. Por quê?
Kamal Sharaf: Porque o nosso povo ri mesmo nas piores condições, e esse riso é o que nos mantém vivos. O humor é um escudo que impede o colapso da alma.

LATAMARTE: Alguma vez você foi ameaçado por causa do seu trabalho?
Kamal Sharaf: Sim, muitas vezes. Quando sua caneta se posiciona contra a corrupção ou o belicismo, sempre haverá quem queira silenciá-lo. Mas, se a arte não traz risco, talvez não tenha impacto.

LATAMARTE: Qual é a principal mensagem que você deseja transmitir através de suas charges?
Kamal Sharaf: A humanidade. Que nenhuma bandeira, fronteira ou ideologia deve estar acima do valor da vida humana.

LATAMARTE: Se tivesse a chance de pintar uma de suas charges na parede das Nações Unidas, qual seria?
Kamal Sharaf: Uma criança sentada sobre ruínas desenhando uma pomba branca, enquanto atrás dela os membros do Conselho de Segurança estão vendados.

LATAMARTE: Qual é o seu maior desejo para o Iémen?
Kamal Sharaf: Um país onde as crianças usem lápis de cor para desenhar o céu, não para esboçar aviões de guerra.

 

LATAMARTE: Você criou muitas charges contra o regime sionista. O que o motiva a abordar esse tema de forma constante?
Kamal Sharaf: Quando crianças palestinas morrem todos os dias sob bombardeios, não posso ficar em silêncio. Para mim, a charge não é entretenimento, é um registro visual dos crimes.

LATAMARTE: Em seus trabalhos, os Estados Unidos frequentemente aparecem como o principal apoiador do regime sionista. Como você transmite essa mensagem artisticamente?
Kamal Sharaf: Por meio de símbolos e metáforas. Às vezes, uma mão com a bandeira dos EUA puxando a corda de uma forca para o povo palestino fala mais do que mil palavras.

LATAMARTE: Você já enfrentou censura ou pressões políticas ao publicar essas obras?
Kamal Sharaf: Sim, muitas vezes. Alguns veículos se recusaram a publicar meus trabalhos, e até recebi ameaças. Mas o silêncio é a pior forma de censura.

LATAMARTE: Até que ponto você acha que a arte da charge pode influenciar a opinião pública mundial sobre os crimes do regime sionista e as políticas dos Estados Unidos?
Kamal Sharaf: A arte não pode mudar políticas de imediato, mas pode plantar a semente da consciência. Essas sementes um dia se tornarão uma floresta de verdade.

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Kamal Sharaf

Kamal Sharaf

By LatAm ARTE

Kamal Sharaf, renomado cartunista iemenita, é um dos artistas mais proeminentes da frente cultural da resistência. Nascido no I ...