Maha Daya é uma artista visual palestina originária de Gaza. Pintora e bordadeira formada pela resistência, ela transformou a arte em uma ferramenta para documentar o exílio, o luto e a violência em sua terra natal.
Mãe de três filhos, ela vive na França como refugiada, após fugir do cerco israelense que devasta a Faixa de Gaza desde outubro de 2023. De lá, seu trabalho denuncia o massacre em curso com linhas, mapas, palavras e pinturas.
Antes de seu deslocamento, sua vida era dividida entre pincéis e telas. Sua exposição mais recente em Gaza, inaugurada apenas dois meses antes da incursão israelense, intitulava-se Only Rubble (Só Escombros), na qual ela refletia sobre os ataques de 2021.
“Aquilo poderia ter sido uma guerra violenta”, diria ela mais tarde. “Mas isto não é uma guerra. Isto é um massacre. É diferente de tudo.”
Linguagem da Despossessão
Em meio à perda, ela encontrou uma linguagem diferente: o bordado palestino. “Senti que a costura poderia expressar dor, sofrimento e deslocamento de forma mais profunda do que a pintura a óleo.”
Após fugir para o Egito, ela começou a bordar mapas de Gaza, palavras em árabe e inglês sem costura, forçando o observador a interpretar o oculto, o incompleto, o fragmentado. Ela escolheu um padrão tradicional palestino para cada palavra.
Você pode se interessar por: 'Mãe das Moscas' ganha prêmio principal no Festival de Cinema Fantasia de 2025
Em uma de suas peças mais recentes, a frase "Todos os Olhos em Rafah" é tecida em ponto cruz, cercada por morcegos pretos pairando sobre um símbolo geométrico que lembra o tatreez, o bordado nacional palestino.
Outra de suas obras mostra a silhueta esguia da Faixa de Gaza, bordada em preto e vermelho sobre tecido branco. São feridas, cicatrizes, rastros. A frase "Para Onde Vamos?" também aparece, bordada com dor e precisão milimétrica. "A arte transmite sofrimento", diz ela. “É uma forma de contar ao mundo o que estamos passando. O que nossos filhos estão passando. O que deixamos para trás.”
A guerra em Gaza é uma ameaça
A situação em Gaza, ela explica, é desesperadora. A fome assola toda a população palestina. “Hoje disseram que iam trazer ajuda, mas as pessoas não viram nada. Tudo o que jogam dos aviões cai do lado do exército. Se uma pessoa se aproxima, eles a matam. Não há comida, farinha, vegetais.
Eles estão matando a população de fome. E o deslocamento é outra forma de tortura”, menciona Maha.
Quando perguntada sobre o que pode ser feito do México ou da América Latina, ela não hesita. Sua voz se eleva: “Que nossas vozes se estendam. Isso é o mais importante. Que o mundo nos ouça, que nos veja.
Quando há protestos, mesmo que sejam distantes, isso nos dá força. Nos lembra que não estamos sozinhos. Que alguém ainda pensa em nós.”
Maha não borda apenas tecidos, ela borda mensagens. Ela bordou Gaza quando nada restava. Ela bordou perguntas quando não havia respostas. E enquanto seu trabalho está em exposição na França, sua irmã liga de Gaza para dizer que não há mais nada no mercado. Sem comida ou fruta. Sem vida.
"Nossa missão é fazer nossa voz ser ouvida." E ela consegue. Cada ponto é um testemunho, um traço, uma prova. Cada trabalho, um ato de resistência diante do esquecimento.
O que você deve saber
Altos funcionários da ONU, incluindo a Relatora Especial Francesca Albanese, acusaram formalmente Israel de cometer atos que podem constituir genocídio contra o povo palestino, conforme estipulado na Convenção para a Prevenção e Punição do Crime de Genocídio de 1948.
Desde o início do massacre israelense em Gaza, em 7 de outubro de 2023, mais de 60.000 palestinos morreram, segundo o Ministério da Saúde de Gaza. Aproximadamente 18.000 deles são crianças.
Fonte