As artes visuais no México são um vasto e profundo rio que flui das civilizações ancestrais às expressões mais contemporâneas, constituindo um pilar fundamental da identidade nacional. Sua história é um diálogo constante, e por vezes uma luta, entre a herança indígena, a influência colonial e a busca incessante por uma voz moderna e singular.
Os fundamentos pré-hispânicos são a primeira camada desse palimpsesto. As majestosas cidades de Teotihuacan, Monte Albán e as capitais maia e asteca, com sua arquitetura monumental, murais, esculturas em pedra (como o Coatlicue ou a Pedra do Sol) e cerâmica, estabeleceram uma sensibilidade estética profundamente ligada à religião, ao cosmos e ao poder político. Essa sensibilidade à narrativa visual em grande escala ressurgiria séculos depois com força revolucionária.
A conquista e o período vice-reinal impuseram a linguagem da arte religiosa europeia. Igrejas e conventos estavam repletos de pinturas e retábulos barrocos, muitas vezes executados por artistas indígenas e mestiços que introduziam sutilmente elementos locais, dando origem a um rico sincretismo. Pintores como Cristóbal de Villalpando e Miguel Cabrera representam o ápice desse Novo Barroco Espanhol.
O século XIX, após a Independência, viu o surgimento de uma arte costumbrista e acadêmica que buscava definir os símbolos da nova nação, embora ainda com forte influência de modelos europeus. No entanto, o evento que transformaria radicalmente o curso da arte mexicana foi a Revolução Mexicana (1910-1920).
De suas cinzas nasceu o movimento mais emblemático: o muralismo. Promovido pelo governo pós-revolucionário para educar uma população majoritariamente analfabeta, artistas como Diego Rivera, José Clemente Orozco e David Alfaro Siqueiros — "os Três Grandes" — ocuparam as paredes de prédios públicos para narrar uma nova epopeia nacional. Suas obras de grande formato, realistas e ao mesmo tempo épicas, glorificavam o passado indígena, denunciavam a opressão e exaltavam a luta de classes e os ideais socialistas. Frida Kahlo, embora associada aos muralistas, trilhou um caminho íntimo e poderoso com seus autorretratos, nos quais capturou sua dor física e emocional, explorando temas de identidade, gênero e mestiçagem (mistura racial e cultural), tornando-se um ícone feminista e cultural global.
Em meados do século XX, enquanto Rufino Tamayo oferecia uma resposta mais colorida e universalista ao muralismo, emergiu a Geração da Ruptura. Artistas como José Luis Cuevas, Vicente Rojo e Manuel Felguérez rebelaram-se contra a hegemonia da arte figurativa e seu conteúdo sociopolítico, abraçando a abstração, o informalismo e o expressionismo, abrindo assim um diálogo com movimentos internacionais.
A arte mexicana contemporânea é um campo pluralista e vibrante. Herdeira de todas essas camadas históricas, caracteriza-se por uma absoluta liberdade de meios e discurso. Artistas como Gabriel Orozco transcendem categorias com sua poética do cotidiano; Francisco Toledo foi um incansável defensor da cultura oaxaquenha com uma linguagem visual orgânica e fantástica; Teresa Margolles aborda a violência e a marginalização com um realismo cru; e coletivos como Semanario Cultural e Paso del Norte exploram as fronteiras entre arte, ativismo e comunidade. A arte de rua e o neomuralismo reivindicaram o espaço público com novas estéticas e mensagens sociais.
Em suma, as artes visuais no México são um organismo vivo em constante evolução. Sua força reside na capacidade de combinar o poder narrativo da tradição muralista, a introspecção simbólica, a crítica social contundente e a mais livre experimentação. Elas não são apenas um reflexo da história do país, mas também participantes ativos na construção de seu presente e de seu futuro imaginado.
Latamarte