Mártires do genocídio sionista: a pintora palestina Heba Zagout

Mártires do genocídio sionista: a pintora palestina Heba Zagout

Suas obras, registros poéticos únicos do seu amor por sua terra, estão incineradas e soterradas sob os escombros de Gaza
Há dois anos, em 13 de outubro de 2023, o a Palestina perdia uma de suas maiores artistas plásticas. A pintora Heba Zagout foi assassinada por um bombardeio aéreo israelense que destruiu sua casa na Faixa de Gaza. Dois de seus quatro filhos pequenos também foram mortos no ataque.

Heba Zagout nasceu em 14 de fevereiro de 1984 no campo de refugiados de Al-Bureij, na Faixa de Gaza. Ela descendia de uma das centenas de milhares de famílias que foram expulsas de suas terras durante a “Nakba” — a “Catástrofe”, violenta operação de limpeza étnica conduzida pelas milícias sionistas nos territórios palestinos desde o fim dos anos 40.

A família de Heba era proveniente da cidade palestina de Isdud — um povoado milenar, registrado nos textos bíblicos como uma das cinco cidades-estados da Filisteia. Conforme o próprio plano de partilha previsto na Resolução 181 da ONU, Isdud deveria pertencer aos domínios do Estado Palestino. Em 1948, no entanto, a cidade foi atacada por grupos paramilitares israelenses, que expulsaram todos os 5.000 moradores e tomaram suas terras. Sobre os escombros do vilarejo arrasado, o governo de Israel ergueu a atual cidade portuária de Ashdod.

Acossados pela violência das tropas israelenses, os avós de Heba foram forçados a buscar abrigo na Faixa de Gaza. Eles viveriam no campo de refugiados de Al-Bureij pelo resto de suas vidas. Ali criaram seus filhos e testemunharam o nascimento dos netos.
Heba Zagout viveu sua vida inteira sob a ocupação e o cerco militar de Israel, confinada ao que há muito tempo é considerado o “maior campo de concentração a céu aberto do mundo”. Ela cresceu observando bombardeios e ofensivas militares e testemunhando os efeitos perversos das privações impostas ao povo palestino. Comida, água potável, empregos, serviços públicos — tudo era escasso na Faixa de Gaza.
Desde pequena, Heba encontrou na arte um meio de expressar seus sentimentos, seus interesses e seus sonhos de liberdade. Ela cresceu ouvindo as histórias de seus tios e avós sobre uma Palestina que ela nunca pôde conhecer. Foi através da pintura eu Heba tentou se acercar desse mundo.

Heba estudou design gráfico no Centro de Aprendizagem de Gaza e em seguida cursou artes plásticas na Universidade Al-Aqsa, onde se graduou em 2007. Trabalhou posteriormente como professora de educação artística em uma escola primária de Gaza. Também atuou como educadora na Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina.

Foram as pinturas de cores vibrantes, repletas de vida e beleza, dotadas de pungente simbolismo, que tornaram Heba uma artista admirada. Ela tinha uma predileção especial por retratar as paisagens, os costumes e o povo da Palestina, transpondo para as telas as histórias dos refugiados, o cotidiano de Gaza, as tradições e símbolos que evocam a cultura de seu povo. A arte de Heba era, acima de tudo, um registro visual que documentava a história e a herança palestina — um meio de enfrentar o apagamento histórico e cultural imposto pela ocupação israelense.

Heba retratava as casas palestinas, as oliveiras, as mesquitas e as igrejas de Gaza. Contava as histórias de sua família e as memórias de sua infância. E se as cercas de arame farpado e muros erguidos por Israel a impediam de sair, Heba viajava através de suas obras.

Ela pintou a Cidade Antiga de Jerusalém, retratando suas vielas ladeadas por oliveiras e a suntuosa Cúpula da Rocha. Pintou Belém e suas antigas muralhas. Pintou a aldeia de Isdud onde viveram seus antepassados. E pintou a si mesma em vários autorretratos, ora trajando o thaub e o bordado tatreez, reafirmando o orgulho por sua identidade palestina, ora expressando seu desejo por paz e liberdade.

Comentando sobre a simbologia de um desses autorretratos, Heba explicou: “Nasci carregando comigo a palavra refugiado. Nunca vi minha cidade natal, mas minha tia, Alia, nos contava sobre as terras do meu avô, os laranjais, a época de colheita e uma casa cheia de amor e vida. Eu via a saudade nos olhos da minha tia enquanto ela nos contava essas histórias daqueles tempos passados. E via o desejo de poder retornar um dia”.

A arte de Heba também era o meio pelo qual ela sustentava sua família. As redes sociais eram as plataformas usadas para romper o cerco israelense e mostrar sua arte para seguidores em todo o mundo. Em 2021, Heba realizou sua última exposição individual, intitulada “Meus Filhos em Quarentena”, explorando a rotina de sua família durante a pandemia de covid-19. A mostra foi sediada em um instituto de Tulkarem, na Cisjordânia.


Por muitos anos, Heba conseguiu através de sua arte impedir que o horror, a desumanidade, a perversidade da repressão israelense ocupassem sua mente. Mas a barbaridade se impôs no dia 13 de outubro de 2023 — uma semana após o início da ofensiva genocida de Israel sSuas obras, registros poéticos únicos do seu amor por sua terra, estão incineradas e soterradas sob os escombros de Gaza, junto com os corpos de dezenas de milhares de palestinos.
Fonte