Malba homenageia Luis Felipe Noé com obras pouco conhecidas

Malba homenageia Luis Felipe Noé com obras pouco conhecidas

A Gênese do Big Bang: Malba homenageia Luis Felipe Noé com obras pouco conhecidas
Na sala mais intimista do Museu Malba, uma capela, como a descreve seu diretor artístico Rodrigo Moura, e atrás de uma fotografia ampliada de Luis Felipe Noé em seu ateliê em 1960 — um retrato do fotógrafo Sameer Makarius —, encontram-se cinco obras suas, vistas raríssimas vezes, essenciais para a compreensão de sua extensa trajetória.

 



Na foto, Noé tem apenas 27 anos e está longe de compreender o lugar que ocupará na história da arte contemporânea em nosso país, graças à sua visão disruptiva, à sua insatisfação em obedecer a qualquer cânone estabelecido e ao seu espírito generoso com colegas, amigos e artistas de outras gerações.
Homenagem a Yuyo

Esta homenagem, patrocinada pelo Malba e pela Fundação Noé, aproxima o público da potência criativa deste artista complexo e completo, por meio das obras que realizou entre 1962 e 1965, período central e gênese do Big Bang. Embora tenha trabalhado incansavelmente por sete décadas e até seu 90º aniversário, foi aqui que começou...

Em 1960, Rafael Sqirru, diretor do recém-inaugurado Museu de Arte Moderna, apresentou a Primeira Exposição Internacional de Arte Moderna da Argentina, que incluiu obras do jovem Noé, além de Jackson Pollock, Willem de Kooning, Antoni Tàpies, Candido Portinari e Lygia Clark, além de muitos outros artistas locais da nova geração. A internacionalização da arte do nosso continente estava na pauta.


Dois anos depois, a galeria Bonino, uma das mais sólidas e pioneiras de sua época, idealizadora de um plano ambicioso que incluía sedes em Buenos Aires, Rio de Janeiro e Nova York, organizou uma exposição no Brasil que contribuiu para o diálogo entre as regiões e os movimentos de vanguarda que se consolidavam. Artistas como Antonio Díaz e Rubens Gerchman diziam: "Adore Noé porque ele é sujo", referindo-se à sua capacidade de recuperar a força da materialidade e da destruição pictórica, como explica a curadora-chefe de Malba, Marita García.

Durante essa década, Noé tornou-se pai, dando passos importantes após sua primeira exposição na Galeria Witcomb, em 1959, onde se tornou amigo de Jorge de la Vega e Alberto Greco, com quem compartilhava visões em torno da ideia de desmantelamento da arte, e de Rômulo Macció, que também trabalhava no estúdio retratado por Makarius, na Avenida Independencia, no coração do bairro de San Juan.
Amigos, Testemunhas e Cúmplices

 


Eles eram amigos, testemunhas e cúmplices criativos, algo demonstrado na exposição "Otra Figuración", que apresentaram no Salón Peuser em 1961 e que daria origem ao grupo Nova Figuração. Noé, de la Vega e Macció uniram forças com Ernesto Deira para criar uma proposta que buscava transcender a abstração e a figuração, colocando o ser humano no centro das questões, não como representação, mas como presença, e nos convidando a ver o mundo com outros olhos.

Na ocasião, Makarius e Carolina Muchnik também foram convidados, embora o grupo fosse composto pelos quatro, que trabalharam lado a lado por quatro anos, mesmo após o exílio em Paris.

Na obra de Noé, a carga material, a crise do objeto pictórico e a noção de pintura dividida ou visão fragmentada começaram a emergir, além de gestos de caos, violência e a explosão do próprio cerne da arte. Como enfatiza Marita García, tanto ele quanto os demais membros do grupo decidiram retornar e investir em seu país, decisão que rendeu frutos com as exposições que realizaram juntos em Bonino, Lirolay, no Museu Nacional de Belas Artes e sua participação no Prêmio Di Tella. A ruptura da pintura foi bem recebida.
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