Assassinato em vez de aplausos: silenciaram a voz da verdade em Gaza
Saiba quem era fotógrafa morta pouco após filme em que atuou ser selecionado para festival em Cannes
Fatima Hassouna tinha 25 anos e foi morta em ataque aéreo israelense que atingiu sua casa, no norte de Gaza, vitimando dez membros da família, incluindo irmã grávida
Fatima Hassouna acabara de receber, na última terça-feira, a notícia de que o documentário que protagonizava, "Put Your Soul on Your Hand and Walk" ("Coloque sua alma em sua mão e ande", em tradução livre), havia sido selecionado para ser exibido em um festival em Cannes. Cerca de 24 horas depois, no entanto, ela foi morta em um ataque aéreo israelense que atingiu sua casa, no norte de Gaza, vitimando dez membros de sua família, incluindo sua irmã, que estava grávida.
A fotógrafa, que tinha 25 anos, vivia no local e, nos últimos 18 meses, documentou diversos ataques aéreos, a demolição de sua casa, os inúmeros deslocamentos e o assassinato de 11 familiares, segundo o jornal britânico The Guardian.
“Se eu morrer, quero uma morte em alto e bom som”, escreveu Fatima nas redes sociais. “Não quero ser apenas uma notícia de última hora, nem apenas mais um número em um grupo; quero uma morte que o mundo ouça, um impacto que permaneça no tempo e uma imagem atemporal que não possa ser enterrada pelo tempo ou pelo espaço.”
Segundo The Guardian, o filme traz relatos das provações de Gaza e do cotidiano dos palestinos por meio de conversas em vídeo entre Fatima e o diretor iraniano, Sepideh Farsi, que descreveu a jovem como seus "olhos em Gaza", "ardentes e cheios de vida".
"Filmei seus risos, suas lágrimas, suas esperanças e sua depressão. Ela era tão leve, tão talentosa. Quando você assistir ao filme, vai entender. Eu tinha conversado com ela algumas horas antes para avisar que o filme estava em Cannes e para convidá-la", conta Farsi.
"Ela era tão leve, tão talentosa. Quando você assistir ao filme, vai entender", disse Farsi ao portal Deadline. "Eu tinha conversado com ela algumas horas antes para avisar que o filme estava em Cannes e para convidá-la."
Fatima era licenciada pela Faculdade de Ciências Aplicadas da Universidade de Gaza. Vizinha da vítima, Um Aed Ajur descreveu Fatima como orgulhosa do trabalho que realizava e questionou o ataque em sua casa, dizendo que ela e sua família "não têm ligação" com nenhum grupo terrorista.
Segundo a CNN, os pais de Fatima sobreviveram ao ataque, mas estavam com ferimentos graves e haviam sido transferidos para uma unidade de terapia intensiva. Em sua última publicação em seu perfil no Facebook, ela publicou uma série de fotos de pescadores de Gaza à beira-mar no último sábado, dias antes de seu assassinato.
"Daqui você conhece a cidade. Você entra, mas não sai, porque você não quer sair, e não pode sair", escreveu Fatima na publicação.
Desde o início da guerra em Gaza, a Federação Internacional de Jornalistas (FIJ) estima que ao menos 157 jornalistas e pessoas que trabalham em meios de comunicação foram mortos, embora haja relatórios que estimam que o número real pode ultrapassar os 200.
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