Como "Abaporu" foi essencial para a construção da identidade nacional do Brasil

Como "Abaporu" foi essencial para a construção da identidade nacional do Brasil

A historiadora e antropóloga brasileira Lilia Moritz Schwarcz falou sobre a obra icônica de Tarsila do Amaral, agora no Malba.
Abaporu, de Tarsila do Amaral, consolidou-se como um dos emblemas mais reconhecidos do modernismo brasileiro e, ao mesmo tempo, como ponto de partida para a reflexão sobre a identidade nacional e a construção de mitos culturais.
Isso foi afirmado em sua apresentação pela historiadora e antropóloga brasileira Lilia Moritz Schwarcz no lar da obra, o Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires (Malba), como parte das comemorações do 24º aniversário da exposição sediada em Buenos Aires.

A palestra foi apresentada por Anna Di Stasi, vice-presidente sênior e diretora de arte latino-americana da Sotheby's, que refletiu sobre o reconhecimento e a valorização do modernismo brasileiro e sua consolidação no mercado.
Para Moritz Schwarcz, Abaporu é um exemplo raro, pois simultaneamente nomeia uma obra e batiza um movimento cultural, “tornando-se um símbolo do modernismo brasileiro”.
A origem do título da pintura, assim como seu significado, reside na relação entre Tarsila do Amaral e Oswald de Andrade. Schwarcz explicou que “a ideia de intitular a tela ‘Abaporu’ partiu do próprio Oswald, que atribuiu à obra uma origem tupi-guarani, significando ‘homem que come’: aba (homem) e poru (aquele que come gente)”. Esse nome não apenas batizou a obra, como também inspirou o Manifesto do Mantropófago, de 1928, texto fundamental para a modernidade artística e cultural no Brasil.
A pintura, com suas formas distorcidas e cores intensas, tornou-se um manifesto visual. Schwarcz explicou que “com suas proporções distorcidas — uma cabeça pequena, braços finos, mas pés e mãos enormes — a pintura buscava reforçar a conexão dos brasileiros com a terra, a partir do grande cacto verde e, ao fundo, de um sol amarelo intenso”.

Essa composição, ao mesmo tempo simples e complexa, faz parte do “momento antropofágico” do artista, juntamente com outras obras como Antropofagia (1929), A Lua (1928) e O Lago (1928).
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